Jaques Haber fala sobre a importância da acessibilidade no mundo digital e o potencial do uso de novos recursos tecnológicos para impulsioná-la.

Mais de 45 milhões de brasileiros (cerca de 24% da população) têm algum tipo de deficiência. O dado, divulgado pelo IBGE, expõe e reforça a importância de tornar os espaços acessíveis, e isso inclui o ambiente digital. O cenário atual, contudo, não é dos mais favoráveis: menos de 1% de todos os sites do País têm ferramentas de acessibilidade – aponta um levantamento da BigDataCorp, em parceria com o Movimento Web para Todos.

Recursos como navegação por teclado, leitor de texto, lupa e ajuste de contraste são alguns bons exemplos de ferramentas que facilitam a navegação na web para milhões de pessoas – número que inclui não apenas quem tem alguma deficiência, mas também os idosos e os analfabetos.

“Além de permitir que os usuários com necessidades específicas naveguem com autonomia e independência, adotar recursos acessíveis no mundo digital melhora a experiência dos internautas como um todo”, explica Jaques Haber, sócio-fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb. “Alguém capaz de subir escadas, por exemplo, provavelmente vai preferir usar o elevador para subir um prédio de 11 andares”, expõe o especialista, que empreende em prol de pautas como inclusão e diversidade ao lado de sua esposa, a influenciadora e palestrante Andrea Schwarz.

Jaques Haber e Andrea Schwarz
Jaques Haber e Andrea Schwarz – Crédito Nadia Szajubok
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    A acessibilidade digital está prevista na legislação brasileira?

    Sim. Hoje, temos a Lei Brasileira da Inclusão (LBI), na qual o artigo 63 fala claramente sobre a obrigatoriedade de todos os sites no Brasil serem acessíveis de acordo com os parâmetros internacionais mais modernos, chamados de Diretrizes de Acessibilidade para o Conteúdo da Web (conhecidos, em inglês, pela sigla WCAG). Eles indicam o que um site deve ter em termos de recursos acessíveis para que todas as pessoas, independentemente de suas necessidades específicas, consigam navegar na internet com autonomia, conforto e segurança.

    Mesmo com a legislação, por que muitos sites ainda não são adaptados?

    Um site construído sem se preocupar com acessibilidade é semelhante a um edifício que foi projetado dessa mesma maneira. Uma construção sem rampas, vagas reservadas e banheiros adaptados, por exemplo, pode até se tornar acessível, mas isso vai exigir um investimento enorme de tempo e dinheiro.

    O mesmo acontece com uma página web desenvolvida sem pensar nas diretrizes de acessibilidade do código. Como muitos ainda veem o assunto apenas como algo social, as empresas não conseguem enxergar os benefícios de fazer esse esforço e acabam esquecendo que pessoas com necessidades específicas também consomem na internet.

    Como a tecnologia pode ajudar a mudar esse cenário?

    Com a chegada de novas tecnologias, como inteligência artificial e machine learning, fica muito mais simples transformar um site inacessível em um ambiente totalmente acessível. Isso é feito de forma rápida e automática, a um custo muito baixo. É a tecnologia agindo em favor da inclusão digital.

    Você foi o responsável por trazer de Israel uma nova tecnologia que ajuda a garantir sites mais acessíveis, certo?

    Sim. A startup EqualWeb tem uma tecnologia que foi criada há oito anos, em Israel. Há dois anos, a trouxemos para o Brasil justamente porque vimos como o tema ainda é pouco debatido no País. Começamos a falar sobre o assunto por aqui durante a pandemia de covid-19, que acelerou a transformação digital.

    Com isso, muitas empresas correram para marcar presença na internet, mas deixaram a acessibilidade de lado. O resultado foi que pessoas com necessidades específicas precisaram da ajuda de terceiros para realizar operações simples do dia a dia durante o período de isolamento. E foi aí que a startup começou a ser muito bem-aceita no Brasil, onde já temos mais de 100 clientes.

    Na prática, como o serviço da EqualWeb funciona?

    O serviço é disponibilizado no modelo de Software as a Service (SaaS). De maneira geral, ele é aplicado de forma muito rápida, apenas com a inserção de uma linha de código JavaScript no site do cliente. Com isso, conseguimos inserir o nosso widget, que tem um menu com 31 recursos de acessibilidade.

    Em quais formatos essas funcionalidades são entregues?

    Oferecemos três planos, e cada um deles conta com um número de recursos de acessibilidade. A opção de entrada, voltada para pequenas empresas, por exemplo, inclui as 20 tecnologias mais básicas. Já o pacote intermediário conta com 25 funcionalidades. O plano Total Accessible, por sua vez, tem todas as 31 tecnologias disponíveis e é indicado para grandes companhias.

    Em quanto tempo as ferramentas já podem estar online?

    São só cinco minutos. É o tempo de gerar a linha de código para o domínio que vamos acessibilizar. Entregamos isso para o cliente, e, a partir daí, são mais alguns minutos para que ele consiga colocar o código no lugar indicado. Com isso, já podemos alcançar até 85% de conformidade em relação ao parâmetros WCAG.

    Adotar recursos de acessibilidade digital é um diferencial importante para PMEs?

    A acessibilidade digital ainda não está na agenda das grandes empresas, muito menos das pequenas. Entretanto, estamos conseguindo trazer maior atenção e evidência ao tema. Como menos de 1% dos sites do Brasil são acessíveis, qualquer negócio que investir nisso agora vai ter um diferencial importante, saindo na frente dos outros, já que existem milhões de consumidores carentes de produtos e serviços pensados para eles.

    A minha esposa, por exemplo, usa cadeira de rodas há 24 anos. As necessidades de acessibilidade dela influenciam o meu comportamento e o dos meus filhos. Por isso, um site acessível é capaz de conquistar não só o consumidor com necessidades específicas, mas também as pessoas que estão ao redor dele.